*Por Rodrigo Africani
Desde 1970, o terrorismo tem ficado cada vez mais frequente e já
contabiliza mais de 140 mil vítimas ao redor do mundo, em sua maioria,
cidadãos. Além dos notórios ataques coordenados ao World Trade Center,
nos EUA, outras dezenas de países foram palco de uma escalada
assustadora de atentados, como os que ocorreram na França e na Bélgica,
com 270 mortos somente nos últimos dois anos.
Por conta disso, as agências de
inteligência dos EUA e das potências europeias estão investindo
fortemente em novas formas de combater o terrorismo. Essa é uma tarefa
exponencialmente mais árdua, considerando que as novas organizações
terroristas, como o Estado Islâmico, estão distribuídas em milhares de
células isoladas, agindo de forma independente e dificultando a trilha
de investigação para encontrá-las.
Isso significa que as antigas táticas
de investigação, centradas em dispositivos de vigilância, grampos,
interrogações e informantes para expor as "teias" de relacionamento,
perderam rapidamente a eficiência diante do novo modus operandi das
organizações terroristas. Ao invés disso, os investigadores estão
trocando escutas e armas de fogo por ferramentas analíticas cada vez
mais avançadas e escaláveis, apostando no Big Data para identificar e
apreender suspeitos antes mesmo de eles agirem. Somente em 2016, a
inteligência norte-americana deverá gastar US$ 1.7 bilhão em projetos e
pesquisas de Big Data.
Com o uso de Analytics, os
investigadores estão lidando com milhares de petabytes de dados
capturados de pessoas e eventos, que são processados, combinados e
analisados para detectar padrões, comportamentos suspeitos e até para
trabalhar de forma preditiva na identificação de possíveis ataques.
Isoladamente, esses dados são meramente dados. Mas, interligados com
poderosas ferramentas de mineração e visualização de dados, podem ser
capazes de gerar valiosas pistas e insights.
Como encontrar esses dados? A
realidade é que todos nós deixamos pistas por onde passamos e do que
estamos fazendo. São atualizações em perfis de redes sociais, registros
telefônicos, movimentações bancárias e com cartão de crédito, reservas
de passagens, conversas via aplicativos de mensagem e praticamente
qualquer outra atividade pela internet, a partir de qualquer dispositivo
conectado. E os governos estão monitorando tudo isso para ir além das
buscas pelo que eles já esperam encontrar – eles querem encontrar até o
que não esperam. E uma das principais vantagens da inteligência
analítica é justamente essa. Não é necessário saber exatamente o que se
procura, pois a tecnologia pode fazer isso por você.
O ex-diretor da NSA (Agência de
Segurança Nacional dos EUA), Mike Rogers, já afirmou diversas vezes que
esse trabalho de monitoramento e de Analytics é essencial para evitar
outros grandes ataques terroristas, e que ferramentas como o Facebook e o
Twitter podem ser valiosos aliados nesse combate. Em 2015, o estudo The
Isis Twitter Census mostrou que 46 mil contas do Twitter estavam sendo
operadas pelo Estado Islâmico. Em fevereiro deste ano, outras 125 mil
delas foram suspensas por promover mensagens terroristas.
Nesse sentido, um dos grandes desafios
ainda é o de utilizar recursos analíticos para distinguir os "lobos
solitários" das organizações terroristas de pessoas que apenas estão
falando de extremismo. Muitas agências ainda possuem dificuldade para
tirar o máximo proveito dos dados que possuem para esse objetivo, mas já
existem iniciativas para compartilhamento efetivo de inteligência entre
agências e governos com grandes volumes de dados. Isso deverá auxiliar
uma série de investigações, como o projeto Minerva, lançado em 2008 e
com a finalidade de levantar perfis de incitadores de revoltas e ataques
terroristas nas redes sociais.
Portanto, já estamos vivenciando uma
realidade tecnológica que permite o uso do Big Data e das tecnologias
analíticas mais avançadas para combater efetivamente o terrorismo. E não
estamos tão longe assim do filme de ficção Minority Report (2002), pois
teremos cada vez mais recursos para identificar e capturar terroristas
muito antes de ocorrer um ataque. Cada vez mais, o desafio de
conscientização de governos e empresas a respeito dos benefícios de Big
Data se torna menor e nos coloca um passo à frente do futuro.
*Por Rodrigo Africani, gerente de Negócios de Data Management do SAS América Latina
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