Fonte: Valor Agregado
Quando compramos um carro nos preocupamos em avaliar o seu consumo, o custo do seguro além dos aspectos relacionados à manutenção. A razão para isto parece simples e óbvia: o mercado valoriza carros e marcas que prezam estes aspectos. Os modelos novos custam mais, os usados são mais valorizados.
Se para comprar um carro há esta preocupação, por que ela não ocorre na compra de um imóvel? Por que não se busca entender se o projeto foi desenvolvido pensando na usabilidade, no conforto e na economia operacional? Por que o mercado não valoriza estes aspectos já que passamos muito mais tempo com os imóveis do que com os carros e que os gastos com a operação dos imóveis serão inevitavelmente maiores e mais representativos do que um tanque de combustível?
Uma arquitetura que não pensou na ventilação natural, uma janela de tamanho inadequado, colocada na face errada da edificação, uma economia no material de vedação, projetos elétricos deficientes e focados em apenas reduzir o custo da obra e não em otimizar a operação, economia nos sistemas de aquecimento de água etc. Todos estes são exemplos comuns de obras que foram feitas para custar menos na aquisição, mas muito mais na operação. São nossos “edifícios gastões”.
Pessoas que, conscientemente, não comprariam um muscle car v6, que são carros com potência, tamanho e performance elevada, pois se tratam de consumidores ambientalmente preocupados, estão comprando “edificações beberronas” e fazendo isto sem se atentar. O mercado, que está avidamente competindo por preço, deve buscar o custo operacional como diferencial com cada vez mais intensidade.
Neste cenário, o BIM (Building Information Model), a Internet das Coisas (IoT) e o BI (Business Intelligence) têm muito a contribuir.
O BIM é a construção virtual. Com ele, conseguimos fazer estudos, simulações, vislumbrar e antever o comportamento da edificação antes que ela exista fisicamente. Isto é fundamental desde as fases iniciais de projeto para que se crie um projeto otimizado para a operação a partir do início. É o BIM que vai poder dizer quanto a edificação vai consumir, quando será necessário ligar o ar condicionado, acender as lâmpadas e o que se consumirá de energia, gás e água.
Assim como um carro tem um painel com hodômetro, velocímetro e contador de rotações do motor, sendo que para isto possui sensores nas rodas e motor para coletar os dados, vamos precisar inserir sensores na edificação para medi-la, avalia-la e conhecê-la. Vamos fazer isto não apenas para checar se as simulações do BIM estavam certas, mas para fornecer insumos para uma manutenção mais eficiente e para registrar o que já aconteceu com a edificação. Você compraria um carro sem saber quantos quilômetros ele rodou e quanto ele performa? Você compraria um carro apenas consultando o ano de fabricação? Sem a internet das coisas é assim que compramos imóveis usados.
A terceira tecnologia que vem para apoiar esta mudança é o BI e ela se torna necessária, pois o volume de dados gerados nas simulações e pela internet das coisas é enorme. É o tal do Big Data. Para que possamos realmente tirar proveito deles não basta colocá-los em uma planilha, há necessidade de desenvolver análises bem mais profundas. Análises com regressões, cruzamento de dados e incorporação de visualizações em gráficos e diagramas dinâmicos, que é justamente a entrega que o BI faz.
A conclusão é que nossos “edifícios gastões” são oportunidades e não obstáculos e que é necessário mudar este cenário, seja por uma questão mais macro sob o ponto de vista de energia, seja como necessidade de se criar diferenciais em um mercado competitivo e em crise.
Marcus Granadeiro, engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do Construtivo.
0 comentários:
Postar um comentário