[SÉRIE BIG DATA] Big Data e os cientistas de dados

Fonte: Softwarelivre.org


O assunto Big Data começa a chamar atenção. Diversos estudos e pesquisas apontam que muitas empresas começam a implementar iniciativas nesta área. Alguns estudos, como um recentemente efetuado pela Deloitte indica que essa tendência está apenas em estágio inicial de desenvolvimento e estima que menos de 50 grandes projetos (a partir de 10 petabytes) estão em execução em todo o mundo.
imagemRelembrando o que já falamos em posts anteriores, podemos resumir o conceito de Big Data com uma fórmula simples, Big Data = volume + variedade + velocidade de dados. Volume porque além dos dados gerados pelos sistemas transacionais, temos a imensidão de dados gerados pelos objetos na Internet das Coisas, como sensores e câmeras, e os gerados nas mídias sociais via PCs, smartphones e tablets. Variedade porque estamos tratando tanto de dados textuais estruturados como não estruturados como fotos, vídeos, e-mails e tweets. E velocidade, porque muitas vezes precisamos responder aos eventos quase que em tempo real. Ou seja, estamos falando de criação e tratamento de dados em volumes massivos.
Este cenário do crescimento do Big Data aponta também que estão surgindo novas oportunidades de emprego para profissionais de TI.
Um novo cargo, chamado de “data scientist” ou cientista de dados é um bom exemplo. Demanda normalmente formação em Ciência da Computação e Matemática, bem como as habilidades analíticas necessárias para encontrar a providencial agulha no palheiro de dados recolhidos pela empresa.
"Um cientista de dados é alguém que é curioso, que analisa os dados para detectar tendências", disse recentemente Anjul Bhambhri, vice-presidente de Produtos Big Data da IBM. "É quase como um indivíduo renascentista, que realmente quer aprender e trazer a mudança para uma organização."
Inédita há 18 meses, a carreira de "cientista de dados" já aparece em profusão, pelo menos nos EUA. Como exemplo, acessei o Dice.com, um site americano especializado em carreiras de TI, no dia 14 de março e coloquei o termo “data scientist”. Obtive 172 respostas.
Identifiquei também que há uma demanda por desenvolvedores e administradores de sistemas que se especializam em ferramentas Hadoop, projetada para aplicações distribuídas com uso intensivo de dados e utilizadas por sites bastante conhecidos como o Yahoo, Facebook, LinkedIn e eBay. O Hadoop já é mencionado em muitos dos anúncios dos empregos disponibilizados na Dice.com.
A IBM tem uma nova iniciativa nos EUA, denominada Big Data University, que visa a formação de estudantes de graduação e pós-graduação na área, expondo-os ao Hadoop e aos conceitos de Big Data. Lançado em outubro passado, a Big Data University já atraiu mais de 14 mil estudantes para seus cursos online gratuitos, em inglês.
Aqui no Brasil conversei com Mario Faria, o primeiro CDO (Chief Data Officer) do país, uma posição pioneira e creio que compartilhar com vocês um pouco da experiência dele será extremamente válida.
1. Mario, como primeiro CDO (Chief Data Officer) no Brasil você está abrindo novos caminhos. Existe muita curiosidade sobre o asssunto e creio que podemos conversar um pouco sobre o tema. Antes de tudo, o que é exatamente um CDO, quais suas funções e responsabilidade e onde ele deve se posicionar na organização?
Mario: Minha função é bastante nova, apesar das empresas se preocuparem com o assunto dados há décadas. O papel de um CDO é ser o responsável por gerir os dados da empresa, através de uma estratégia baseada em valor para o negócio. Mesmo nos Estados Unidos, esta posição é nova, e o primeiro CDO foi o Professor Richard Wang do MIT que, em 2010, se licenciou para ser o CDO do Exército Americano.
O meu papel é conseguir olhar para as necessidades que a empresa tem em desenvolver novos produtos, serviços e ofertas, e quais são os insumos (no caso os dados) que precisam estar disponíveis para que isto ocorra. Se eu trabalhasse em uma indústria, meu cargo seria o de Diretor de Materiais.
2. Quais são as caracteristicas e skills necessarios a um CDO? Existe alguma educação formal?
Mario: Antes de tudo, um CDO precisa gostar de gente, pois vai ter que conversar e interagir muito com as áreas de negócio da empresa, a equipe de tecnologia e os principais clientes. Depois, o CDO tem que conhecer tecnologia e estar antenado nas grandes tendências do setor. E para finalizar, ter um raciocínio lógico e conhecer bastante de processos.
Eu tenho formação em Computação, mestrado também em Computação e um MBA em Marketing. Tudo isto ajuda, porém não é suficiente para um excelente resultado.
3. O CDO substitui ou complementa outras funções como analistas de negócios?
Mario: No meu caso, por estar me reportando diretamente ao CEO da empresa, sendo par do CIO e dos principais executivos de Vendas, Produtos e Operações, vejo minha função como parte integrante do sucesso da empresa. Os analistas de negócios tem uma função muito específica que é traduzir as necessidades em uma linguagem que o pessoal de TI consiga implementar. Talvez o CDO e sua equipe sejam os analistas de dados, para fazer uma analogia.
4. Porque você entrou nesta linha de atuação profissional?
Mario: Foi um convite feito pelo CEO da empresa, Dorival Dourado, para ajudá-lo a construir uma empresa séria, focada e de sucesso que é a Boa Vista Serviços. A minha posição existe pela interação que a Boa Vista teve com o Professor Richard Wang em 2011, onde ele recomendou que pelo nosso negócio, deveríamos ter uma área específica focada em dados, com um executivo dedicado a este assunto. Como eu adoro start-ups e desafios, abracei a oferta na hora.
5. Na sua opinião, quais os desafios que o CDO enfrenta em uma empresa e como você sugere resolve-los?
Mario: O maior desafio é mostrar o que um CDO e uma área de dados faz, e quais benefícios poderá trazer. Depois é entender que apesar de existir um componente de tecnologia, esta função não é TI e possui um foco bem definido em olhar e tratar o ciclo de vida do dado na empresa. E o mais importante, o CDO é um prestador de serviços para Vendas, Marketing, Produtos e Operações, e estar sempre atento como ele/ela pode estar a um passo adiante das necessidades destas áreas.
6. Que recomendações você faria a quem quer se tornar também um CDO?
Mario: Vou compartilhar o que eu fiz quando entrei aqui. Estudei muito, li bastante, pesquisei sobre este assunto e falei com o máximo de pessoas que consegui. Foi uma dedicação intensa. Além disto, dediquei um tempo significativo para entender a empresa e as áreas com as quais eu iria me relacionar e interagir. E acima de tudo, tenho sido aberto a escutar a minha equipe, que tem ajudado bastante nesta tarefa de construir nossa área, que é nova e cheia de desafios.
O assunto é novo e o primeiro livro sobre o que é um CDO está sendo escrito e a princípio será publicado em meados de Agosto de 2012.
7. Quais tipos de empresas deveriam também ter um CDO?
Mario: O fato que é hoje vivemos um momento peculiar da história humana, onde a quantidade de dados gerados é infinitamente superior ao que é consumido. Estes dados, em sua maioria não são estruturados, e são criados em uma velocidade tremenda. Isto é o conceito que o mercado batizou de Big Data. Toda empresa que está olhando para isto, como um fator disruptivo na sua indústria, precisa ter um CDO. Não vejo que bancos, varejo, empresas de telecom e empresas que utilizam a internet como um meio para fazer negócios conseguirão ficar mais que dois anos a partir de hoje sem um CDO. Segundo o IDC, o mercado de Big Data irá movimentar quase US$ 16 bi em 2015. É um oceano de oportunidades para todos.
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Sobre Grimaldo Oliveira

Mestre pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) no Curso de Mestrado Profissional Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação (GESTEC) com o projeto “GESMOODLE – Ferramenta de acompanhamento do aluno de graduação, no ambiente virtual de aprendizagem(MOODLE), no contexto da UNEB“. Possui também Especialização em Análise de Sistemas pela Faculdade Visconde de Cairu e Bacharelado em Estatística pela Universidade Federal da Bahia. Atua profissionalmente como consultor há mais de 15 anos nas áreas de Data Warehouse, Mineração de Dados, Ferramentas de Tomada de Decisão e Estatística. Atualmente é editor do blog BI com Vatapá. Livro: BI COMO DEVE SER - www.bicomodeveser.com.br

1 comentários:

Paulo disse...

Interessante como o assunto Big Data começa a entrar em foco. Acredito que, assim como o Mario Faria disse, em algum tempo Big Data vai ser essencial para a continuidade do sucesso de grandes negócios.